Teatro cego e surdo
Novas tendências chegam ao teatro não é mesmo? A que destacamos hoje é tão interessante que chega a dar vontade de não ver, não ouvir e sentir com o tato e a imaginação. A curiosidade aflorou? Então vamos assistir teatro feito por cegos e surdos e depois fazer teatro para cegos e surdos.
Quando as cortinas se abrem 11 atores vestidos de chefe amassam farinha, água e fermento. Ao final da apresentação esta mistura sairá do forno como pão e a platéia será servida. Este é um ato do espetáculo “Não só de pão” encenada pelo grupo Nalaga´at (“Toque por favor” em Hebraico) de Israel. O grupo é o único do mundo formado apenas por atores surdos e cegos. Em uma hora e meia - tempo que leva para assar o pão - com muito humor abordam sonhos, aspirações e experiências pessoais dos atores. Os temas podem ser pesados e os sonhos parecerem banais, mas tratam tudo isso com delicadeza e sem dramas e melancolias.
Em três anos de montagem o espetáculo já foi assistido por mais de 15.000 pessoas em Israel e no exterior. Para Adina Tal, diretora e fundadora do grupo o segredo do sucesso é tratar atores e público com respeito, sem apelações. A diretora ainda diz que não encara ninguém de maneira especial e é mais severa com os atores surdos e cegos do que jamais foi com outros. Já os atores descrevem a experiência como libertadora, alguns afirmam que o teatro mudou suas vidas; dando sentido à elas; incluindo-os socialmente e aumentando a vontade de viver e sonhar.
A idéia de criar o grupo surgiu há dez anos, depois que Adina foi convidada para ministrar um workshop para surdos-cegos. Dois anos depois estreava o espetáculo “A luz é ouvida em ziguezague”. Mostrando que o grupo não desejava cair no esquecimento, em 2008 foi montado o espetáculo “Não só de pão”. O sucesso fez com que o projeto se ampliasse, o grupo é mais que apenas um grupo de teatro, hoje formam uma ONG voltada para pessoas surdas e cegas, oferecem oficinas, cursos e espetáculos para adultos e crianças. A sede do Nalaga´at fica no subúrbio de Tel Aviv, além do teatro o local conta com um café no qual todos os garçons são surdos e um restaurante no qual todos os garçons são cegos, neste os clientes comem na escuridão total para sentirem como se não pudessem ver.
Outra técnica de encenação que devemos ressaltar é o Teatro dos Sentidos. Trata-se de encenações idealizadas especialmente para uma platéia de deficientes visuais ou para um público com olhos vendados. Esta modalidade de teatro é caracterizada pela máxima estimulação dos sentidos (audição, olfato, paladar e tato), suprimindo a visão. O espectador experimenta uma enorme riqueza de sensações e compreende totalmente a história encenada sem dar nenhuma olhadela. O espectador é quem cria a imagem que é fruto da criação interna e pessoal do mesmo. A fantasia é estimulada pelos outros sentidos.
O Teatro dos Sentidos é fruto da pesquisa da professora e diretora teatral Paula Wenke, que em 1997 começou a montar estes espetáculos com seus alunos na Casa da Gávea - RJ. Nos espetáculos deste tipo são experimentados sabores, são utilizadas essências que provocam odores, instrumentos musicais cujo timbre e ritmo reforçam os tons dramáticos, uma extensa trilha de efeitos sonoros e ainda outras surpresas que tocam literalmente o espectador.
Dá uma vontade de sentir tudo isso, experimentar novas coisas, sabores e odores, substituir a visão e utilizar-se dos demais sentidos. Alguns buscam a tecnologia para criar novas propostas, já outros buscam retrocessos, menos cenários, menos shows visuais e mais sentimentos.
Carol Campos
Guia do Ator
Foto:Juliano Caldeira - 'Figura com venda'/ Óleo sobre tela