Onde tudo começou...
Não há registro algum de atividades cênicas antes da época do descobrimento, mas o teatro brasileiro tem descendência da religião católica, vindo junto com os colonizadores portugueses, que realizaram os primeiros passos teatrais com rituais religiosos teatralizados. A montagem era feita com as pregações dos jesuítas que queriam impor a fé cristã como roteiro, as pequenas barracas de barro como palco, estrelando padres, índios jovens e crianças (que melhor convenciam e passavam maior credibilidade) e índios mais velhos e colonos na plateia.
José de Anchieta, o padre jesuíta, pode receber o cargo de pioneiro do teatro do país, por ter sido dele a primeira peça escrita em territótio brasileiro - O Auto da Pregação, 1567). Trata-se de um mistério medieval em versos. Os próximos duzentos anos seguiram atividades cênicas ligadas ao autos religiosos, na maioria das vezes falados em tupi-guarani, já que os índios não tinham leitura e nem escrita, e os colonos eram analfabetos.
Mas foi na segunda metade do século 18 que o teatro brasileiro sofreria mudanças. No livro 'História e Formação do Ator', o autor e historiador Ênio Carvalho, conta que o primeiro elenco dramático foi criado em 1970 com direção de um tenente-coronel de Milícias, depois de tanto os jesuitas pregarem suas artes de um mundo melhor através do catolicismo. Os militares chegaram.
Mas foi com a chegada de D. João VI para viver no Brasil que a necessidade da construção de um teatro decente cresceu e com urgência, para elevar a nova capital do Império, o Rio de Janeiro. E foi nessa época que as mulheres, sem espaço, eram banidas das cenas e os papeis femininos eram interpretados pelos homens nas apresentações. Além disso, mulher no teatro significava coisa boa. Sua fama e reputação eram vistas de outra maneira. Esse preconceito se estendeu até os anos 40/50, onde, tanto para ser atriz quanto para ser prostituta, era necessário apresentar a carteira de saúde para enfim, poder trabalhar.
O primeiro ator dramático nacional foi João Caetano, que criou uma companhia de atores, atrizes, cenógrafo, maestro e mais de 30 peças. João também escreveu o livro 'Lições Dramáticas', que sintetizou as normas de interpretação para o ator, que se baseava nos manuais acadêmicos europeus de teatro.
Em 1911, foi formada a Escola Dramática Municipal do Rio de Janeiro, onde, de lá, atores como Procópio Ferreira. As montagens giravam em torno das 'estrelas da companhia'. Por exemplo, o que aconteceu com o ator Leopolfo Fróes, que quase nunca ia aos ensaios e decorar papeis também não era com ele. Mas, na hora do ensaio, seu espaço estava sempre reservado no centro do palco. O resto era dos cosdjuvantes. E na estreia, chegava o astro na casa, no caso Fróes, improvisava do seu modo e soava os aplausos da plateia.
Foi em 1943 quando o teatro brasileiro entrou na maioridade e o centro da cena não dependia apenas do ator vedete, mas sim do conjunto do espetáculo: texto, ator, luz, cenário, figurino, melodia... Nelson Rodrigues conquistou esse marco de transformação, em 'Vestido de Noiva', sob direção de Ziembinski. O palco era dividido em três planos com 174 mudanças de luz em cena. Depois dali, tudo mudou. Teatro Brasileiro de Comedia, Arena, atores como Cacilda Becker, Sergio Cardoso e outros optaram por construir o moderno teatro brasileiro.
Hoje em dia o ator é um profissional, com formação e estudo em alguma escola que o ensinou técnicas de interpretação e aperfeiçoamento de personagem. Alguns lutam por um espaço, outros se tornam conhecidos nacionalmente em um piscar de olhos, independentemente de seu talento ou figura, que no caso, são as celebridades ou 'a vida como espetáculo', como no filme 'O Show de Truman'.
Informações da Revista Continente