Cultura traz voto sim, José Serra!
O Guia do Ator particiou do debate sobre Cultura com o candidato do PSDB, José Serra, na última terça feira, 21, no Cine Bombril, em São Paulo.
Marcado para iniciar às 12h30, José Serra chegou às 13h35 e começou o debate mudo. Apenas ouviu. Estavam ali presentes personalidades da classe artística, jornalistas e muitas lentes que fixavam o olhar sob o candidato à Presidência da República. E criticaram. Mas criticaram com boas ideias, e criticaram a todos, pela falta de propostas culturais nos programas eleitorais. Serra chegou a dizer em um momento que cultura 'não traz voto'. E que há desinteresse das pessoas pelo tema, assim como também pela sustentabilidade. Mas deixou claro que sente necessidade em priorizar a cultura, até porque, foi o dirigente que mais deu importância nessa área, triplicando os orçamentos da Secretaria da Cultura Municipal e do Estado.
Roberto Melo, presidente da CNCDA (Comitê Nacional da Cultura e Direitos Autorais) iniciou o debate dizendo que 'é hora da classe artística acordar de um sonambulismo'. Disse também que a população está assistindo a desconstrução do Estado de Direito. O tom de sua voz parecia bastante preocupado com o atual governo e com o Ministério da Cultura, que tem sido grande opositor ao direito. 'Eu nunca vi um Ministro da Cultura defender um projeto de lei que seja contrário ao direito autoral', afirma Melo e ainda completa: 'É um Ministério 'anti-cultura''.
O ator e presidente da Associação dos Produtores Teatrais Indepentendes, Odilon Wagner, também estava lá presente, sentado na pontinha da primeira fileira e, bem atento a cada tópico. Pegou o microfone logo após a passagem de Roberto Melo, e deu vida à algumas verdades.
Iniciou criticando a ausência da pauta sobre cultura na campanha eleitoral. 'Sempre há educação, transporte... mas cultura nunca entra na pauta de discussão', afirma o ator, e traz ainda a defesa que há na Assossiação na qual é presidente junto com outras entidades que não há como fazer cultura sem investimento. Segundo Odilon, 'é preciso que se coloque um caminhão de dinheiro', e cita dados do IBGE, onde a cultura representa 5% do PIB brasileiro, mas não é vista como atividade produtiva de tamanho valor. 'A cultura emprega mais que a indústria eletro-eletrônica e automobilistica. Isso são dados da Fundação João Pinheiro de Belo Horizonte', completa.
Odilon Wagner soou sua voz diante da sala recheada de gravadores, câmeras e pessoas interessadas em suas palavras, mostrando que quem faz cultura é porque gosta. E que 'a escola ensina a ler, mas é através da cultura e da arte que se entende o que está lendo'. E ainda retrucou o candidado do PSDB, afirmando que 'Cultura dá voto, sim!', com o exemplo da candidata ao governo do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini, que está na liderança nas pesquisas e foi prefeita de uma cidade pequena, chamada Mossoró, onde lá, fez uma 'revolução cultural', construindo um bom teatro e desenvolvendo atividades que é orgulho da cidade, transformando a candidata como a mais bem avaliada e mais bem votada do estado. 'Cultura dá voto porque ela mexe com a identidade do cidadão. Mexe com a auto-estima, valores mais profundos, orgulho de pertencer a algum lugar. O Estado tem que tratar a cultura como a educação', finaliza o ator ao som de aplausos de todos que ali estavam.
O candidado José Serra, depois de ouvir algumas opiniões, sugestões e necessidades, tomou conta do microfone e do silêncio da sala.
Trouxe o tópico sobre a polêmica 'meia-entrada', onde há um projeto no Senado que limita em 40%. 'Eu sou a favor da meia entrada, mas tem que ter um alerta a esse respeito', disse brevemente sobre o assunto.
Além disso, enxerga a necessidade de criar mais prêmios para incentivo, com valores substanciais, simbólicos. 'A Argentina tem quatro ou cinco prêmios Nobel, o Brasil não tem nenhum', ressalta o candidato.
Por um breve momento, Serra coloca que sua esposa, ex-bailarina, viajou o Chile em cartaz. Aquilo pareceu fermentar nos neurônios de alguém que mais pra frente, quis retrucar.
Não é segredo para ninguém que Serra tem como prioridade a educação - pelo menos é isso que ele passa em seu programa eleitoral - e avalia a importância da cultura, além de econômica, para a educação também.
Quando o espaço foi aberto para perguntas, e aí sim, dar início ao debate, a atriz Glória Menezes, que também estava sentada na primeira fileira, logo ao lado de seu colega Odilon Wagner, salta e agarra o microfone para rebater as palavras de Serra - aquelas, sobre o Chile...
'Sofremos no Brasil com a dificuldade em relação a nossa extensão territorial. O Estado de São Paulo é maravilhoso para se viajar, tem maravilhosos teatros, mas as passagens de avião, estadia, são custos altíssimos', declara Glória, com um ar de sofrimento por fazer parte dessa carreira há muitos anos e não ver melhoria.
'O Chile tem um 'programa nacional' e é isso o que precisamos, para facilitar o deslocamento dos espetáculos pelo Brasil', afirma Serra, mostrando um modo de melhorar as dificuldades que a atriz citou, que volta ao seu lugar com uma 'alfinetada' nos políticos, reclamando que é difícil ver diretores de cinema e políticos na plateia de espetáculos. Em cartaz há quase 3 anos com sua peça, apontou para José Serra e Geraldo Alckmin, que chegou às 13h56 e estava ao seu lado, dizendo que nunca os viu em nenhuma de suas passagens, e os intima.
Debate por debate, não houve. O que aconteceu ali foram expressões engasgadas por grandes personalidades da classe artística. O microfone não passou da segunda fileira. Serra, além de chegar com atraso, estava com pouco tempo na agenda. Mais alguns minutos com o microfone em mãos, e agradecendo a presença dos que foram até o local, terminou declarando que gosta de falar de cultura, inclusive ao citar as iniciativas tomadas por ele. E claro, pede o voto de todos e que o ajudem a mutiplicá-los. 'Dilma não deve ter tantos votos assim. A eleição é uma partida que se crava no dia', encerra o candidato, às 14h56, que se encontra em segundo lugar nas pesquisas.
Agora cabe a nós torcermos para que, independente do candidado que será eleito em breve, deem mais importância à classe artistica como é merecida.
Por: Natassia Del Frate
Foto: Cacalos Garrastazu/ ObritoNews/Divulgação