Além do texto
Recentemente, comecei a ler 'Hamlet', de William Shakespeare. Caso não saiba de quem se trata, sugiro pesquisar. Não que eu seja um profundo conhecedor de Shakespeare, tanto que esta é a primeira obra sua que estou lendo, mas já percebo o porquê ele é considerado um gênio da dramaturgia.
Quem já está na batalha ou já estuda teatro há algum tempo, já deve ter se deparado com rubricas indicando a forma como tal fala deveria ser entregue. Ok, com todo respeito aos dramaturgos, acredito que este trabalho seja do ator. Até porque às vezes você encontra rubricas do tipo 'com intenção'... Mas, qual intenção? Essas indicações acabam por prender atores inexperientes na forma. Indicações como 'com raiva', 'chorando' ou 'irônica', podem indicar um texto com lacunas, ou personagens sem clareza de personalidades.
O motivo de expor isso, é o fato de não encontrar nenhuma dessas indicações no texto de Shakespeare. No máximo, ele indica as marcações cênicas, como 'Hamlet entra' ou 'Ofélia sai', e se limita a isso, pois o texto já transmite toda a 'intenção' pretendida pelo autor.
Claro, não dá pra comparar toda e qualquer dramaturgia com a escrita pelo inglês, mas o que proponho aqui é uma reflexão das tão conhecidas rubricas nos textos teatrais. Elas não são regras e nem estou dizendo que são algo ruim de se ter no texto, mas acredito que elas podem sim limitar o trabalho de criação do ator. Como disse anteriormente, um ator inexperiente pode ficar preso em uma emoção, uma intenção ou em uma demonstração destas, resultando numa atuação fraca e sem verdade.
Também não estou dizendo que os textos e autores que usam desse recurso não são bons, mas insisto em dizer que sem ele, o ator teria uma maior liberdade, ainda dentro do personagem e respeitando a obra, de criar as nuances que dão vida ao ser que só existe na mente do autor.
Um exercício interessante, pode ser ignorar as rubricas e indicaões de intenções no texto e ver o resultado da fala, com a sua própria criação, ainda com base nos dados de personalidade da personagem e nas idéias impícitas do texto.
Para algumas pessoas isso pode parecer bem óbvio, mas é um pouco desesperador quando vou a uma peça e vejo decoradores de texto e declamadores, vomitando verdadeiras jóias da dramaturgia, sem fazer idéia do que estão falando.
Vá além do que está escrito, procure conhecer a vida e obra do autor, o que ele realmente estaria querendo dizer com aquele texto. Afinal, a vida está cheia de idéias implícitas na comunicação interpessoal.
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