Pluralismo em meio ao Jardim Europa
Guia do Ator vai conhecer uma das mais novas salas de São Paulo – SP, o Teatro MuBE Nova Cultural e conversa com o gestor Paulo Gabriel.
Teatro MuBE Nova Cultural - Imagem de divulgação
A cidade de São Paulo é conhecida no país por seu caráter cosmopolita, reunindo pessoas de todos os estilos, idades, ideais, culturas e, obviamente, gostos. Seguindo a tendência da pluralidade da selva de pedra, surge por aqui o Teatro MuBE Nova Cultural, inaugurado oficialmente em outubro de 2012 e localizado no Museu Brasileiro da Escultura (MuBE), no bairro Jardim Europa. O espaço é caracterizado como uma sala multicultural, com estrutura própria para abrigar de teatro a apresentações de dança, passando por mostras de curta metragens, shows, concertos e até mesmo aulas de yoga. O teatro é, na verdade, uma atualização do Auditório Pedro Piva, que teve o projeto feito pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha. “A ideia não é conflitar com a obra dele, mas sim praticar melhorias para que o espaço se tornasse de fato um teatro”. Estas aspas pertencem a Paulo Gabriel, um dos fundadores da Innovax, a empresa que gerencia e administra o espaço. A convite de Gabriel, o Guia do Ator foi conhecer a sala e bater um papo super bacana com o também ator e empreendedor cultural. Confira nossa conversa, na entrevista abaixo.
Como surgiu a ideia de transformar o Auditório Pedro Piva no Teatro MuBE Nova Cultural?
O projeto teve início em 2011, quando eu estive aqui como ator na peça “Eles não usam Black-Tie”, do [Gianfrancesco] Guarnieri, com o filho dele [Flávio]. Por já ter uma carreira de produtor em paralelo, eu visualizei nesta sala uma grande possibilidade. Por que não transformar este auditório em um teatro de fato? Desde então foram nove meses de trabalho, eu e meu sócio, Eduardo Jacsenis, nos unimos à diretoria do MuBE e juntos construímos um projeto para a casa, para trabalhar e reformular a grade de cultura e transformar o Auditório Pedro Piva no Teatro MuBE Nova Cultural. O novo teatro é uma sala multicultural, para diversas vertentes artísticas: não só teatro, mas também dança, cinema, música erudita, eventos corporativos e eventos culturais, principalmente.
Como foi a escolha do nome?
Nós estávamos pesquisando um nome e martelou muito o “nova”, por ser forte, feminino. É para cima, aberto. Propaga. Não é como “novo”, que é fechado. “Nova” sintetiza a ideia; é uma nova cultura, que se instala dentro de um polo de cultura. O nome surgiu disso e acabou virando também o nome da empresa gestora, a Innovax.
Houve alguma inspiração para a reforma? Qual?
Nós nos baseamos na necessidade. Por exemplo, aqui não tinha camarim. A casa possui um piano de cauda que não tinha um espaço para acomodá-lo. A gente criou uma garagem para este piano, criamos um mezanino na parte de trás. Criamos toda uma estrutura de comunicação e de operação que não existia. Quanto à parte de reforma, a gente contou com a parceria da MSVA Arquitetura, que nos auxiliou e contribuiu para que as ideias necessárias fossem transpostas do papel para a obra em si. Na verdade a gente não ergueu um metro quadrado além do projeto do Paulo Mendes da Rocha, toda a área foi preservada. A ideia não é conflitar com a obra dele, mas sim praticar melhorias para que o espaço se tornasse de fato um teatro. Aqui é uma obra criadora, a gente não pode interferir de uma forma agressiva. Tiramos apenas o que era agressivo, mas procuramos preservar o que era válido para a operação. Como inspiração, usamos alguns teatros de formato parecido com o deste. A dinâmica do Folha inspirou o comercial, apesar de ser um pouco maior. Também o Teatro Eva Herz, na qualidade pontual do que apresenta, nos agrada. É o perfil de sala que a gente quer, uma operação comercial fluida, mas com bastantes produtos de qualidade aqui na casa.
Qual é a capacidade da sala?
Há a possibilidade de ter 192 lugares fixos e mais 12 cadeiras extras, e também dois assentos para cadeirante. Aqui todos tem acesso, tanto um ator que tenha necessidades especiais como um consumidor da casa.
Em termos de estrutura, o que o teatro oferece às produções?
Possuímos um rider aqui. Assim como em qualquer outro teatro, a gente oferece toda estrutura: parte operacional, staff operacional (técnico), produtor e administrador da empresa e dois gestores que estão sempre trabalhando em conjunto nesta operação. Oferece uma estrutura de comunicação (site que divulga a peça, redes sociais em que estamos sempre fazendo sorteios, rádio e jornais parceiros da casa). Entregamos um pool de melhorias para que ocorra uma divulgação da peça do produtor que vem para cá. Além disso, oferecemos dois camarins, o que está atrás do palco para um elenco menor (cinco pessoas) e outro, externo, que é para um elenco maior (de oito a dez pessoas). Estamos em uma super localização; a Avenida Europa está entre a Paulista e a Faria Lima, a dez minutos dos principais centros comerciais e hotéis. Oferecemos uma casa nova e, além de todo o conforto, muita gente querendo fazer e acontecer.
Qual é o maior diferencial do MuBE Nova Cultural para as outras salas que já existem em São Paulo?
Primeiro é estar dentro de um complexo de cultura. Vários outros teatros estão na rua ou dentro de shoppings, que são centros de entretenimento. O Sesc tem uma linha parecida com esta. O MuBE não é um Sesc, mas é um grande polo cultural. Outro grande diferencial aqui é a pluralidade. Por ser uma casa multicultural, no MuBE Nova Cultural todas as artes são bem-vindas, seja ela teatro, dança, cinema, música, shows, eventos culturais de desenvolvimento humano. Fora a intimidade, a proximidade da plateia com o artista. É quase um exercício de cinema aqui, quem senta nas primeiras poltronas até pega a respiração dele, de tão próximo que é. Aqui jamais você não conseguirá ver o artista, de qualquer lugar você o enxerga muito bem.
Pode-se caracterizar o teatro como um espaço-conceito?
Sim. Queremos criar um produto que as pessoas só encontrem aqui, aliado a muito conforto e ambiente intimista. A sala não é muito grande, mas de qualquer lugar você tem uma boa visão da casa, as poltronas tem um ótimo conforto. Hoje você já tem aqui um padrão de qualidade que você vê em poucas salas. E ainda há uma série de novidades por vir que eu ainda não posso falar, mas esta será a primeira sala Premium na categoria. Serão criadas ainda mais ferramentas inovadoras de serviço para o consumidor frequentar nossa sala.
Como foi o processo de inauguração do teatro?
Ele foi lançado em duas etapas. A primeira foi para fazer as melhorias necessárias para que pudéssemos vender o espaço como sala no mercado. Ele não tinha uma série de ferramentas para as produções, então fizemos uma reforma pontual. Na segunda etapa, entrou a parte dos naming rights da sala, que é um patrocinador que vai chancelar o teatro. Depois disso, a gente teve dois meses de teste de implementação da casa. Só aí tivemos realmente estofo para abrir. Após ser tudo testado e funcionando, realizamos a inauguração oficial. A casa já estava aberta, mas esperamos para ter um momento mais certeiro.
Vocês mencionam que o público que vocês querem atingir é “diferente e variado”. Qual seria exatamente esse público?
Exatamente isso: várias células e várias tribos. É o público variado e diferente, a gente não quer um homogêneo aqui. Não queremos que circulem por aqui apenas pessoas das artes cênicas de teatro. Por exemplo, queremos gente de dança também, vamos até ter agora um espetáculo de flamenco. Em novembro, começam cursos de yoga. São várias “tribos”, digamos assim, que permeiam, sobrevivem e vivem no mesmo ambiente. A gente quer esta pluralidade, neste sentido de destacar possibilidades para a casa, que não fique restrito a um segmento. Aqui entra uma reunião de atrações artísticas. O teatro é o carro-chefe, com certeza, mas você tem também uma vertente grande aí. Queremos transformar isto aqui em um polo de agitação, de cultura, de entretenimento. Mesmo para o público, vamos trabalhar diversas facetas, criando na verdade produtos pensando em quem queremos atingir. Teremos apresentações de MPB e Jazz Latino, com o grupo Cuba 07, que sempre terão convidados. Queremos transformar este espaço em algo descontraído; as portas sempre ficarão abertas para o pessoal entrar, sair, beber algo la fora, voltar. Será despojado neste sentido.
Como está sendo a pauta e a procura para este fim de ano e para 2013?
Está surpreendente. Em São Paulo, a gente tem uma necessidade de espaços. É uma cidade enorme e tudo é em excesso. Inclusive os espetáculos, só que a gente não tem sala o suficiente para tanta atração. Abrimos aqui em setembro, com a peça “Filha, mãe, avó e puta – uma entrevista”, com Alexia Dechamps e o Louri Santos, e “O empinador de estrela”, que continuam em cartaz. Também está em cartaz o monólogo “Como ter sexo a vida toda com a mesma pessoa”, com Tania Bondezan e direção de Odilon Wagner. Como mencionei, em breve terá a programação de cursos de yoga e flamenco, com espetáculos bimestrais, e em dezembro entra o projeto de jazz. Para o ano que vem, a gente já tem espetáculos até maio. Estamos super contentes, a gente acha que vai ser uma casa de muito sucesso, a procura tem sido bastante positiva e nós temos conseguido bastante a ideia de trazer para cá produtores que são apaixonados pelo que fazem. Porque trabalhar com arte já é árduo, principalmente no Brasil e no momento que a gente vive. Tudo é muito difícil para as coisas acontecerem. Então procuramos sempre trazer pessoas queridas e que tenham paixão pelo trabalho, por produzir, por atuar. E acho que é uma estrada bem próspera que vamos construir aqui.
Paulo Gabriel, co-fundador da Innovax Gestão Cultural - Imagem de divulgação
Quando e como surgiu a parceria com Eduardo Jacsenis?
Nós nos conhecemos no Globe-SP, ele era meu professor e a gente foi afinando muito as ideias lá. A gente já tem outros projetos juntos, desde o final de dezembro de 2009. Até que eu o convidei para vir para este projeto. Então vimos a necessidade de implementar uma empresa independente da minha pessoal e da dele para gerenciar esta operação. Porque é uma coisa independente, para este tipo de projeto era bom ter uma específica, para ficar claro a origem de verbas, essas coisas. A gente fundou a Innovax Gestão Cultural, arte cultural para o segmento de produções e que também tem uma abrangência na área de implementação e administração de espaços, seja ela independente ou compartilhada com o espaço original, como é aqui também.
A Innovax cuida hoje apenas do MuBE Nova Cultural ou vocês também atendem outros espaços?
Enquanto espaço, este. E o nosso desafio é fazer este, a gente tem muito foco aqui para que esse seja muito bem sucedido. A gente não tem pressa “para aloprar”, megalomaníaco. Vamos fazer um de cada vez, cada um bem feito. Nós temos outros projetos de Rouanet e Proac, já para sair em 2013, mas enquanto gerência operacional e curadoria artística é esta sala que a gente administra.
Você é ator, empreendedor cultural, publicitário, assessor de imprensa, entre outras especializações. Como você une todas estas carreiras?
Na verdade a gente é meio multifuncional. Já trabalhei com publicidade, já tive agência. E tudo isso é bagagem de vida que você traz para as suas próximas empreitadas. Eu trabalho muito em ciclos, mas o da área das artes cênicas e da cultura foi a que eu defini como carreira de vida. Hoje eu só crio propriamente para estes projetos que eu estou envolvido. Porque é muita coisa, eles já demandam um tempo que você precisa de muito foco. Então, na verdade, hoje eu me encaro muito desta forma: ator, como carreira base, e empreendedor cultural como uma visão que eu acho que soma. O ator, quando é produtor, ele sai na frente. Porque ele se destaca por produzir, você não fica dependendo de que alguém convide para alguma coisa. Você vai, peita, faz, e eu acho que aqui você tem que guerrear muito para que aconteça. Quando você produz, você percebe de fato o quão difícil é levantar e erguer um projeto. As outras carreiras ficaram para ciclos passados, mas servem de muita bagagem para minha vida atual.
Mas sobra tempo para ser ator nesse momento?
Nesse momento, não. Na verdade, não é que não sobra. A gente faz achar. Por exemplo, amanhã eu tenho um evento aqui e saindo dele eu vou gravar. Talvez eu não consiga me envolver em projetos tão extensos. Eu não conseguiria participar de uma peça que tem um processo de cinco meses, por exemplo, pelo menos até o final deste ano. Porque a gente está estruturando continuamente, não para, pois para tudo isso andar por enquanto ainda depende muito dos proprietários e dos gestores da Innovax. É um trabalho que tem que estar de perto, acompanhando. Nesse ínterim eu acabo fazendo curtas, ações pontuais, locução, dublagem, publicidade, coisas que demandam menos tempo de entrega. Você tem que se virar e ver ali qual é a maior necessidade que as pessoas vão precisar de você. Nesse momento é o projeto do MuBE Nova Cultural, então meu tempo hoje tem sido muito mais dedicado à esse do que a carreira de ator, né? Mas a partir de novembro eu já vou me reequilibrando, voltando a fazer algumas outras coisas. Se não você vira só produtor, e não é essa a minha ideia. Eu amo os dois ofícios, mas o meu carro-chefe, onde eu quero estar sempre, é atuando.
Não deixe de fazer uma visita ao Teatro MuBE Nova Cultural! O espaço está localizado na Avenida Europa, nº 221 - Jd. Europa, São Paulo (entrada pela Rua Alemanha, nº 221). Se interessou em levar o seu evento para a sala? Confira todas as informações de como entrar em contato com o MuBE Nova Cultural, clicando aqui.
Por Jessica Orsini (em entrevista especial para o Guia do Ator)
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